A história é uma ciência que estuda a vida
do homem através do tempo. Ela investiga o que os homens fizeram, pensaram e
sentiram enquanto seres sociais. Nesse
sentido, o conhecimento histórico ajuda na compreensão do homem enquanto ser
que constrói seu tempo.
A
história é feita por homens, mulheres, crianças, ricos e pobres; por
governantes e governados, por dominantes e dominados, pela guerra e pela paz,
por intelectuais e principalmente pelas pessoas comuns, desde os tempos mais
remotos. A história está presente
no cotidiano e serve de alerta à condição humana de agente transformador do
mundo.
Ao
estudar a história nos deparamos com o que os homens foram e fizeram, e isso
nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer. Assim, a história é a
ciência do passado e do presente, mas o estudo do passado e a compreensão do
presente não acontecem de uma forma perfeita, pois não temos o poder de voltar
ao passado e ele não se repete. Por
isso, o passado tem que ser “recriado”, levando
em consideração as mudanças ocorridas no tempo. As informações recolhidas no
passado não servirão ao presente se não forem recriadas, questionadas,
compreendidas e interpretadas.
A
história não se resume à simples repetição dos conhecimentos acumulados. Ela
deve servir como instrumento de conscientização dos homens para a tarefa de
construir um mundo melhor e uma sociedade mais justa.
Ensinar história nos anos iniciais do ensino fundamental
Quantas vezes pronunciamos história
em um dia? No nosso cotidiano, empregamos a palavra história com vários
sentidos, mas dois se sobressaem. O primeiro é vida. Evidentemente, não vida
biológica, pura e simples. Mas, vida no sentido social: pensar, agir e sentir.
Temos consciência de que estamos vivos quando constatamos que pensamos, tomamos
decisões e experimentamos sentimentos vários como a dor e o amor. Vida, nesse
sentido, é história e viver, consequentemente, é construir história.
O segundo sentido que empregamos para
a palavra história é conhecimento. Conhecimento sobre o quê? Sobre a
própria vida, ou melhor, conhecimento sobre uma parte da nossa vida, pois
sabemos da impossibilidade de registrar e rememorar tudo o que pensamos, agimos
ou sentimos durante toda a vida. Tente colocar agora tudo o que aconteceu na
sua vida hoje numa folha de papel! Você consegue?
Se não podemos ou se não nos
interessa todo o passado, observemos aquela parte que sobra. É a parte acessada
a partir de testemunhos, como uma carta, uma fotografia, uma fita de vídeo
produzidos e conservados por indivíduos ou coletividades. É esse o conhecimento
de que tratamos aqui. Ele pode ganhar a forma de um relato, produzido e
reproduzido por um corpo de profissionais e partilhado por todas as pessoas
dentro e fora da escola. Nesse segundo sentido, portanto, a palavra história
pode ser entendida como um conhecimento sobre a nossa própria vida, configurado
em narrativa histórica, concebido dentro de regras da história ciência ou da
história disciplina escolar.
O conhecimento histórico é importante
para a formação das pessoas? É claro, podemos responder. A prova dessa
afirmação é o fato de nós termos escrito este texto e de vocês estarem lendo-o
agora. Mas isso, apenas, não justifica a existência dele como disciplina
escolar nos anos iniciais. Importante é ter em mente que conhecer a experiência
dos homens no tempo é uma atitude fundamental para a formação de pessoas que se
dispõem a viver em sociedade, em regime democrático, cultivando a solidariedade
e a cidadania.
Se é importante para a formação do
cidadão, o que ensinar sobre a experiência humana no tempo? Será que toda
experiência histórica registrada pelos historiadores é fundamental para a
formação dos brasileiros? Como as crianças compreendem o passado?
Houve um tempo em que se pensava a
história estudada nas escolas primárias como a repetição abreviada dos livros
de história do Brasil e de história universal destinada aos adultos. Mas, com o
avanço da psicologia da aprendizagem e da didática e a partir da
institucionalização da pesquisa sobre ensino de história, sabemos hoje que a
história não é um exercício para fortalecer a memória das crianças e nem o
estudo de história deve ser mediado exclusivamente por processos de
memorização.
Sabemos também que, diferentemente
dos adultos, as crianças compreendem o passado a partir de referências do seu
presente. Se, por exemplo, informarmos a uma criança que, nos tempos coloniais,
as cartas demoravam três meses para chegar a determinado local, não será
improvável que o aluno conclua: “os homens daquele tempo não eram espertos: era
só ligar pelo celular e conseguiriam a informação na mesma hora”. Se, do mesmo
modo, quisermos informar que no Brasil colonial senhores brancos escravizavam
pessoas negras, pode haver aluno que insista: “por que os negros não chamavam a
polícia?”
Assim, tão importante quanto estudar
conceitos como colônia, escravismo e comunicação (e todos os valores e atitudes
que eles suscitam – liberdade e solidariedade) é fundamental fazer com que a
criança desenvolva, por exemplo, a noção de tempo cronológico. Ela precisa
vivenciar a duração e o ritmo de uma determinada ação até compreender a
diferença entre três séculos (os tempos coloniais) e três meses (o tempo que
lhe separa das próximas férias).
Objetivos e habilidades prioritárias
para a história nos anos iniciais
Anunciamos acima que a história é
fundamental para a formação de pessoas que se dispõem a viver em sociedade, em
regime democrático, cultivando a solidariedade e a cidadania. Qual o fundamento
dessa afirmação?
Partimos da ideia de que o
conhecimento histórico nos dá a conhecer o nosso passado. Com ele podemos
construir nossas identidades – sinto-me negro, considero-me descendente de
indígena, sou mulher e brasileira.
Com ele também confirmamos ou
modificamos as nossas posições: sou contra o racismo porque sei o que
significou a política de segregação na África do Sul; penso que as mulheres
devem continuar lutando pela manutenção do seu espaço no mercado, pois nos
últimos 20 anos, muitos homens receberam salários mais altos para desempenharem
as mesmas tarefas exercidas pelas trabalhadoras; as vagas nas universidades
públicas devem ser ampliadas para incluir parcela maior da sociedade brasileira
porque, no século XIX, o ensino superior foi reservado às elites econômicas
etc.
Notaram que todas essas decisões foram
baseadas na experiência humana de outros espaços e tempos (do ocorrido no ano
passado com a família do vizinho; no século passado no Nordeste açucareiro, na
semana passada em Brasília)? Essas decisões, sejam sobre as representações que
fazemos de nós e dos outros que nos cercam, sejam sobre os caminhos que
queremos trilhar, individual e coletivamente, são mediadas por informações
fornecidas pelo conhecimento histórico, principalmente no interior da escola.
Por isso a história é relevante para o ensino das crianças. Ela interfere
diretamente na formação das pessoas que enfrentarão questionamentos dessa
natureza em algum momento das suas vidas.
Mas, como transformar o conhecimento
histórico em estratégia de formação e informação para aos alunos dos anos iniciais?
Que objetivos o ensino de história deve perseguir, finalmente, e que
habilidades devem ser desenvolvidas?
Os objetivos do ensino de história
são delineados a partir dos princípios que baseiam a Constituição brasileira
(igualdade, liberdade, solidariedade, tolerância e valorização da experiência
escolar). Eles já ganham forma na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (dar a conhecer a realidade social e política, especialmente do
Brasil, levando em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para
a formação do povo brasileiro) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Fundamental (desenvolver noções de responsabilidade, solidariedade,
criticidade, criatividade, sensibilidade e de respeito ao bem comum, à ordem
democrática e à diversidade artística e cultural).
Mas é,
sobretudo, nos Parâmetros Curriculares Nacionais que são delineados alguns dos
principais objetivos gerais do ensino de história nos anos iniciais. Aqui
acrescemos e sintetizamos tais objetivos no desenvolvimento de sete
habilidades: conhecer/construir, reconhecer/comparar/relacionar, fazer uso e
criticar (atribuir valor) a experiência dos homens no tempo.
Conhecer/construir
– conceitos de tempo, espaço, passado, história, fonte e interpretação, que
viabilizam a compreensão dos atos, pensamentos e sentimentos dos homens através
do tempo.
Reconhecer/comparar/relacionar
- semelhanças, diferenças, permanências, transformações, relações sociais,
culturais e econômicas e modos de vida;
Fazer uso – de
instrumentos de busca, de fontes de informação e de ferramentas de veiculação
da informação em diferentes gêneros e suportes;
Criticar
(atribuir valor) – ações individuais e coletivas de grande significado social.
ATENÇÃO → VOCÊ CURSISTA DO CURSO NORMAL MÉDIO-
TURMA 2016/2017, Escola Estadual Antônio João Ribeiro (Itaporã-MS), COPIE ESSE TRECHO NEGRITADO EM VERDE PARA DISCUTIRMOS DURANTE AS AULAS
DESSA SEMANA 06/03 a 10/03/2017.
Recursos didáticos
Sabemos até agora que o ensino de história
nos anos iniciais deve contribuir para a formação das nossas identidades e para
a tomada de decisões. E isso se faz, durante os anos iniciais, promovendo o
desenvolvimento de algumas habilidades que possibilitam a construção da
realidade e o entendimento dos escritos dos historiadores. Mas como desenvolver
tais habilidades?
As respostas mais antigas atribuem ao
professor, ou melhor, à voz do professor a tarefa de desenvolver habilidades e
de transmitir informações. Com a profissionalização do ofício, entretanto, a
ideia de dom ou de vocação inata perdeu prestígio e o mestre, hoje, sente-se
livre para aprender a usar e abusar de todos os meios, atividades, técnicas,
linguagens, enfim, todos os recursos didáticos que possibilitem o cumprimento
dos objetivos do ensino de história.
Essa variação de recursos é
justificada pela pesquisa acadêmica e também pelos demais saberes docentes
adquiridos no cotidiano. O professor não é um “sabe-tudo”, que tem todo o tempo
e dinheiro do mundo para acompanhar as atualizações historiográficas e as
descobertas do campo da cognição. Para a formação contínua, há livros didáticos
e paradidáticos, revistas, manuais, guias, dicionários, romances, vídeos
documentários e programas de televisão. Pensando no aluno, também a pesquisa
acadêmica e a experiência docente têm anunciado que a diversidade de
estratégias, artefatos e ambientes é salutar para a aprendizagem. A satisfação
do aluno, o interesse, a auto experimentação, o prazer da descoberta, o
respeito aos conhecimentos prévios e às singularidades socioculturais dos
alunos, por exemplo, são noções pedagógicas bastante conhecidas que estimulam e
orientam o emprego de variados recursos didáticos.
Assim é que a aprendizagem histórica
deixa de ser, exclusivamente, a rotineira ação de ler, copiar, ouvir e
responder para envolver as habilidades de conhecer, construir, reconhecer,
comparar, relacionar, fazer uso e criticar. Isso nos leva ao emprego
parcimonioso da preleção e a ampliação do estoque de estratégias que incluem a
manipulação de fontes de gêneros e suportes diferenciados (bilhetes, depoimento
oral, certidões de nascimento, carteiras de identidades, artigos de jornal e
fotografias), o estímulo à criatividade e à criticidade (desenho, teatro,
dança, narrativa histórica em quadrinhos), e o emprego de novas tecnologias da
informação e da comunicação (a televisão, a internet, os jogos eletrônicos),
por exemplo.
Novas estratégias e recursos,
contudo, não excluem o emprego dos livros escolares (didáticos, literários,
biográficos, de imagens, de palavras, atlas, dicionários, dentre outros).
Com o uso abundante de imagens,
poderemos explorar dois conceitos fundamentais para a formação da criança:
patrimônio e identidade cultural. Assim, será possível entender que a
diversidade (de modos de vestir, falar, comer, brincar e festejar) é uma
característica humana, devendo ser entendida, respeitada e valorizada. Formas
de vida e monumentos, além de traços indicadores da identidade cultural também
são fontes para a história das pessoas e, por isso, devem ser conhecidos e
preservados como bens públicos.
Para citar este texto
FREITAS, Itamar e OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Ensinar
história nos anos iniciais do ensino fundamental. In: BRASIL. Secretaria
de Educação Básica. Acervos complementares: as áreas do conhecimento
nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEB
2009. pp. 30-35. <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc>
Fonte das imagens
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Acervos complementares: as áreas do conhecimento nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEB 2009.
Fonte das imagens
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Acervos complementares: as áreas do conhecimento nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEB 2009.
ABAIXO
disponibilizo algumas sugestões de aberturas de cadernos para disciplina de
História. No Curso Normal Médio (Disciplina Metodologia do Ensino de História),
estaremos explorando a abertura dos cadernos para trabalhar a construção de
conceitos importantes pertinentes à disciplina.
Sugestão de abertura para caderno de História- Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Sugestão de abertura para caderno de História- Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
No Curso Normal Médio, estaremos disponibilizando a imagem abaixo para abertura do caderno da Disciplina Metodologia do Ensino de História. Observe a figura e reflita sobre o símbolo do curso de história: O símbolo da História é formado por uma
ampulheta, uma serpente enrolada em um suporte e uma asa: A ampulheta significa a evolução do tempo histórico; a serpente,
a sabedoria para o conhecimento histórico; e a asa, a possibilidade de se
viajar no tempo através da História.
Abertura do caderno Metodologia do Ensino de História - Curso Normal Médio
Turma 2016/2017
Professora Cristiane Teresinha
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