Não há imagem na natureza.
A imagem é própria do homem,
pois
só é imagem a partir
de sua consciência.
Pierre Reverdy
No processo de ensino e
aprendizagem, busca-se um desenvolvimento e aprofundamento da criticidade, com
o objetivo de possibilitar a compreensão de como a história é produzida e
veiculada. O estudo dos processos históricos deve ter uma significação maior do
que a mera acumulação de informações. Para poder pensar de maneira mais
significativa o uso da imagem no ensino de história, faz-se necessário
refletir, primeiro, sobre como o aluno constrói seu conhecimento histórico,
lembrando que, tal conhecimento e sua apreensão, estarão diretamente ligados à
maneira como ele o recebe e o articula, nesse caso, por meio da escola.
Adquirir conhecimento histórico implica em se ter domínio do próprio conteúdo
histórico bem como na reflexão e análise das formas de como ele foi elaborado,
veiculado e preservado até nossos dias. “O sujeito que conhece, o objetivo do
conhecimento e o conhecimento como produto do processo cognitivo” (Adam Schaff
1987, p. 72) aparecem em todas as análises do processo do conhecimento. No
conhecimento histórico, o sujeito e o objeto constituem uma totalidade
orgânica, agindo um sobre o outro e vice-versa; a relação cognitiva nunca é
passiva, contemplativa, mas ativa por causa do sujeito que conhece; o
conhecimento e o comprometimento do historiador estão sempre socialmente
condicionados (...). (Adam Schaff 1987, p. 105) A teoria do conhecimento mostra
que a estrutura do conhecimento é fundamentada nas relações. E são justamente
as relações que o compõe e as que se pode estabelecer com as informações que se
possui que fazem com que determinados conteúdos se transformem em saber e em
conhecimento científico. Conhecer é ter capacidade de estruturar, relacionar,
organizar, sistematizar as informações que se tem e perceber como essas
relações estruturam a realidade. As atividades de aprendizagem, assim como os
objetivos das aulas, não podem se resumir a reproduzir conhecimentos para
apenas memorizar e depois repetir. Todo conhecimento deve ser pensado no
sentido de sua redescoberta ou redefinição. Para isso, faz-se necessário
trabalhar dialeticamente, construindo o conhecimento numa relação entre
professor, aluno, objeto e realidade. Nessa relação, o professor deve ser o
mediador entre o educando, o objeto do conhecimento e a realidade, buscando um
caminho que leve o aluno a analisar e sintetizar esse objeto, de forma que
chegue a um conhecimento mais elaborado, e não fragmentado e baseado apenas no
senso comum. Quanto maior e mais diversificadas forem as experiências, fatos,
situações e vivências que o aluno tiver, maiores serão as possibilidades de
promover novas relações e uma elaboração mais crítica do saber. Portanto, o
confronto, o conflito, a complexidade, fazem parte essencial do processo de
construção da aprendizagem. Quando o professor planeja suas aulas de história,
deve fazê-lo sempre se questionando sobre o tipo de reação que suas ações
provocará nos alunos; deve ter claro que tipo de operação mental está acionando
e exigindo de seus alunos: recordação, reconhecimento, associação, comparação,
levantamento de hipóteses, crítica, interpretação, solução de problemas etc. Um
dos principais objetivos da disciplina de história é levar os alunos a
conseguirem verbalizar e escrever sobre os conteúdos estudados, utilizando-os
para melhor entender ou explicar sua realidade, relacionando o presente com o
passado, posicionando-se diante dessa realidade, situando-se diante dela e
questionando-a, quando necessário. Os alunos agregam às suas vidas os valores e
explicações passados em sala de aula, por isso, é função também do professor
fornecer estímulos ou significados que farão os alunos lembrar ou silenciar
quanto aos fatos, eventos históricos, imagens marcantes, processos. Algumas das
informações e questões históricas, adquiridas de modo organizado ou fragmentado,
são incorporadas significativamente pelo aluno. Segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais (1998, p. 38): O que se torna significativo e relevante
consolida seu aprendizado. O que ele aprende fundamenta a construção e a
reconstrução de seus valores e práticas cotidianas e as suas experiências
sociais e culturais. O que o sensibiliza molda a sua identidade nas relações
mantidas com a família, os amigos, os grupos mais próximos e mais distantes e
com a sua geração. O que provoca conflitos e dúvidas estimula-o a distinguir,
explicar e dar sentido para o presente, o passado e o futuro, percebendo a vida
como suscetível de transformação. Para a construção do conhecimento em
história, é importante dar ênfase no aprendizado de fatos que digam respeito à
vida cotidiana: fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ideológicos,
sempre procurando estabelecer a relação entre esses diversos aspectos. Lembrar
que os fatos são frutos de ações de indivíduos que fizeram escolhas, mais ou
menos conscientes, em suas vidas e, perceber que essas escolhas afetam a
coletividade, é elemento chave para que se perceba a questão do sujeito, da
responsabilidade dos indivíduos, para que se perceba que não somos somente
produtos da sociedade, mas que também a produzimos e que, portanto, somos
responsáveis por ela. A construção da sociedade é resultado das ações e
decisões humanas e cada um de nós contribui de alguma forma nessa construção. A
relevância de se estudar história deve residir na repercussão dos
acontecimentos na própria história, ou seja, quanto esses fatos modificaram as
relações sociais posteriores ou contemporâneas a eles, sempre fazendo uma
relação passado-presente. Estudar o passado simplesmente pelo passado, não faz
sentido. O aluno precisa despertar para sua capacidade crítica, para uma
reflexão sobre as relações humanas e sobre a conseqüência de suas ações.
Naturalmente, que cada época tem sua própria maneira de ver o mundo e que cada
grupo social tem seu próprio modo de interpretar a realidade. Estudar os acontecimentos
do passado faz com que compreendamos que eles contribuíram de alguma forma para
a construção, organização e funcionamento da sociedade. A educação tem por
objetivo formar cidadãos conscientes, o que só será possível com a compreensão
crítica da sociedade em que vivem e dos fatores que a produziram. Daí a
importância fundamental do estudo crítico da história, sem dúvida um dos
elementos essenciais na formação do cidadão capaz de participar conscientemente
da transformação da sociedade e do mundo em que vive. Numa perspectiva
dialética, a história deve ser trabalhada por sua relevância, dentro de um
contexto histórico, entendendo que os acontecimentos se inter-relacionam no
tempo e não estão circunscritos pelo espaço, permitindo que os alunos reflitam
sobre os temas e a realidade de forma crítica e autônoma. E para escrever uma
história dentro dessa perspectiva, o historiador se vale de uma série de fontes
que incluem desde documentos oficiais, até notícias na imprensa; da história
oral, até o uso de imagens; de artefatos pré-históricos até as mídias mais
avançadas da atualidade. A História Nova nasceu em grande parte de uma revolta
contra a historiografia positivista do século XIX, tal como havia sido definida
por algumas obras metodológicas por volta de 1900 (...); ampliou-se o campo do
documento histórico; ela substitui a história de Langlóis e Seignobos, fundada
essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma história baseada numa
multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos, documentos figurados,
produtos de escavações arqueológicas, documentos orais”. (LE GOFF, 1993, p.28).
Historicamente, há poucos registros de referências sobre a utilização de
imagens. Segundo Circe Maria Fernandes Bittencourt (2005, p. 361): Para o
ensino de História não existem muitas referências sobre o uso de imagens,
apesar da ampla produção, a partir dos anos 50 e 60, de psicólogos, sociólogos
e especialistas em semiologia ou teorias de comunicação, os quais tinham como
principal preocupação o rádio, o cinema e a televisão na configuração de uma
cultura de massa. Na trilha desses pesquisadores, historiadores vêm-se
dedicando ao estudo da iconografia, incluindo análise das denominadas “imagens
tecnológicas”. Assim, novos meios, além do documento escrito e das imagens
impressas, têm sido acrescidos ao estudo e compreensão da história, sendo que,
a partir de meados do século XX, houve um significativo aumento de ilustrações
em livros didáticos. Atualmente, o uso de imagens, por exemplo, é uma das
formas mais eficazes utilizadas como recurso pedagógico no ensino de história
para incrementar o processo de aprendizagem. E são muitos os meios que se
apresentam para esta utilização: vídeo documentários, cinema, pintura,
fotografia, música, mapa, internet, história em quadrinhos, arquitetura,
softwares, enfim, há uma infinidade deles.
Valesca Giordano Litz
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